No ano passado, a franquia WhataFuck, maior hamburgueria artesanal do Estado do Paraná, lançou um tênis sustentável e inovador: chamado de Ueno Whatafuck Imperial, o calçado carregava resíduos do bagaço de malte da cerveja produzida pelo estabelecimento. Em junho, em uma parceria com a Öus Brasil, foram desenvolvidos 1,7 mil itens. Até o momento, 90% deles foram vendidos, seja na Whatastore – a loja da hamburgueria – ou pelos meios online. Mais do que enveredar pelo ramo da moda, a marca buscou oferecer uma oportunidade de estilo de vida ao seu público. “Nós não vendemos só gastronomia”, resume o sócio proprietário da franquia Whatafuck, Daniel Mocellin.
Seguindo no mesmo conceito, o Sirène, maior franquia de fish & chips do Brasil, que conta com seis unidades nos estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo, também oferece outros produtos, que vão muito além de seu cardápio, ao seu público. Em seu site, é possível encontrar camisetas, bonés e canecas com mensagens alusivas ao comércio de peixes e batatas preparados ao estilo inglês. Em 2018, o Sirène, franquia que acaba de completar 3 anos de história, vendeu 70 mil porções de fish & chips, faturando R$ 3,2 milhões. Em 2019, a franquia prevê atingir R$ 6 milhões em faturamento e abrir novas lojas pelo país.
A franquia de cervejaria artesanal Way Beer, que atua no segmento há mais de 8 anos e se transformou em uma grande referência nacional, também investiu em sua própria linha focada no mercado da moda, que conta com camisetas, moletons, bonés, toalhas e mochilas exclusivas. A ideia é conseguir levar a marca – reconhecida pelos designs de seus rótulos – a outros produtos, que estão em linha com a expectativa e perfil de seus consumidores. “A Way é uma cerveja que tem enorme conexão com o seu consumidor, e esse público gosta de mostrar a relação e o amor que tem pela marca. São necessárias inúmeras ferramentas para estabelecer, consolidar e manter uma marca ativa e relevante. Assim, nós investimos muito na construção de inúmeras peças que transformam uma ferramenta de interação em objeto de desejo dos nossos consumidores, que querem mostrar o amor que tem pela Way”, comenta Henrique Domenico, diretor geral da cervejaria.
Valores como liberdade, sustentabilidade, coragem e criatividade estão entre as mensagens disseminadas por essas empresas e que são esperadas e até mesmo cobradas pelos clientes. A iniciativa de investir em novos segmentos, em muitos casos, surgiu a partir da percepção e cobrança do público. “No começo do WhataFuck, as pessoas pediam e queriam saber como comprar o boné ou as camisetas. Começamos a investir nisso”, afirma Mocellin.
Rentabilização em outras frentes
Ao ingressar no meio do vestuário e moda – ou em outra área –, as marcas buscam formas de rentabilizar em outras frentes além da gastronomia. De acordo com Mocellin, uma nova coleção da Whatafuck Hamburgueria deve ser lançada ainda no primeiro semestre de 2019. “Estamos trabalhando em novidades”, avisa. A marca já comercializou mais de mil camisetas e dois mil bonés, além de outros modelos de tênis, centenas de meias, camisas e, até mesmo, cuecas.
Neste ano, a ideia do grupo é reservar um pedaço de cada nova loja para a Whatastore, onde é possível encontrar os itens relacionados à companhia, o que torna a gestão do negócio mais complexa. “Você sai da sua área de controle. Tudo se torna um aprendizado no dia a dia. Não há ninguém que possa fazer isso pela gente, isso desde o primeiro dia”, diz Mocellin.
Impacto na percepção do público
Uma pesquisa realizada pela Ogilvy, a agência associada da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), com 50 marcas e mais de 2 mil entrevistas, mostrou que, no Brasil, as marcas importam mais do que na Inglaterra e nos Estados Unidos. O índice obtido foi de 68% no país, contra 53% dos ingleses e 57% dos americanos.
Segundo o estudo, existem cinco atributos que fazem com que uma marca caia no gosto do público: confiança, imagem, empoderamento, fazer e tradição. Entre as características, a que conta com a maior diferença entre as ações praticadas pelas empresas e a percepção do público é o fazer. A pesquisa conclui que, embora as empresas tenham vivido uma evolução no que diz respeito à visão e às necessidades dos consumidores, ainda precisam fazer algo a mais por eles. Nisso, algumas já estão trabalhando bem.