De acordo com dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), impactados pela crise econômica, mais de 100 planos de saúde encerraram suas atividades entre o fim de 2014 e maio de 2018. No mesmo período, cerca de 3 milhões de brasileiros perderam renda e tiveram de abrir mão do plano. E, nessa movimentação de mercado, as chamadas clínicas populares – em geral, redes de franquias – ganham destaque oferecendo exames baratos a partir de R$20 e consultas entre R$ 50 e R$ 70.
A expansão das clínicas médicas privadas a preços populares é reflexo da naturalização da saúde como mercadoria. Essa é uma das conclusões da tese de doutorado Individualização social, assistência médica privada e consumo na periferia de São Paulo, do sociólogo Ricardo de Lima Jurca com orientação da professora Aurea Maria Zollner Ianni, defendida em abril deste ano na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e publicada no portal Jornal da USP. De acordo com o estudo, as novas clínicas “competem” com o Sistema Único de Saúde (SUS), ao estimular que se supra no setor privado a demanda por um serviço a que a população deveria ter acesso gratuito — e essa competição não está sendo discutida.
A pesquisa foi focada na expansão dessas clínicas em Heliópolis, comunidade em área de classe média, na Zona Sul de São Paulo. Segundo o pesquisador, o bairro foi escolhido devido à emergência do processo de individualização e de mobilidade social das famílias, o que possibilitou a entrada de novos profissionais na região metropolitana, como unidades franqueadas das empresas Dr. Consulta e Dr. Alegria. Em pouco tempo, duas clínicas foram instaladas na mesma avenida.
Segundo o sociólogo, há um processo paralelo ao crescimento dessas clínicas, que permite que sejam acessadas com muita facilidade por meio de celulares e aplicativos. O paciente consegue pesquisar, através do celular, vários tipos de clínicas e em qual terá a especialidade que ele procura, com o preço mais viável. Esse movimento foi nomeado como “Uberização da saúde” pelo pesquisador, que explica que isso vai além do custo das consultas e de um efeito da crise na saúde, sendo mais um efeito de comportamento, complexo e ainda pouco estudado.
A rede de franquias Acesso Saúde, que oferece um sistema de saúde particular sem mensalidade, é uma das redes que tem se beneficiado desse cenário da saúde no país. A marca possui 31 unidades em operação e faturou R$ 32 milhões só em 2017. Em 2018, a rede teve aumento de 30% nos atendimentos em comparação ao ano anterior, o que representa a realização de 1,8 milhão de atendimentos. Com isso, nos últimos dois anos, realizou mais de 3,5 milhões de atendimentos. Para o próximo ano, a meta da franqueadora é realizar 5 milhões de atendimentos.
Ramo de odontologia
Quanto se fala em crise no sistema de saúde brasileiro e queda da adesão a planos de saúde, é importante lembrar que o ramo de odontologia anda em paralelo. A rede de clínicas odontológicas JP Odonto também teve um crescimento significativo tanto de clientes , como de novas franquias.
O faturamento da rede cresceu 58,81 % comparando 2017 e 2018. Somente com as clínicas próprias da região do ABC ( Mauá, Diadema, Santo André e São Caetano), o crescimento foi de 165% nos números dos clientes novos , em comparação a 2017. Ao serem incluídas na conta as duas franquias de São Paulo (Lapa e Cidade Dutra), o aumento foi de 253,7% no número dos clientes novos, em comparação a 2017.
Com mais de 16 anos de mercado, a JP Odonto é voltada para a classe C e D e surgiu da parceria, da inquietação e do conhecimento de um grupo de dentistas. Começaram a atender sindicalistas por um valor único para realizar tratamentos simples de clínica geral e com o tempo, descobriram um bom nicho de mercado para começar um know how próprio. “Nosso propósito sempre foi levar tratamento bucal de qualidade e ótimo custo-benefício para classe C e D. Por isso, nosso modelo de clínica foi pensado e estruturado para este público”, explica Márcio Fernando Panhota, um dos franqueadores da JP Odonto.
Para entrar no mercado de franchinsing, a JP Odonto criou três modelos de franquias, todas com a mesma excelência e know how: Fit, Premium e Infinity. O modelo Fit comporta três consultórios para atendimento. A versão Premium tem capacidade para cinco consultórios e a Infinity apresenta sete consultórios para atendimento. Outro diferencial é que todos os clientes pagam o mesmo valor, podendo incluir mais pessoas para fazer tratamentos clínicos.