Nem sempre ter um canudo na mão é garantia de um futuro promissor na carreira, especialmente nos dias de hoje. Mas o que dizer em 1983, quando o recém-formado engenheiro civil Kyrlei Boff, com apenas 23 anos, estava diante de um mercado sem demanda para iniciar a atuação. Vivenciando de perto a falência de grandes construtoras paranaenses, com o ramo da construção parado, sem obras para financiar e prestes a se casar, com todo gás da idade, viu surgir a oportunidade pelas mãos da crise, que, literalmente, deu “tesouradas” no seu destino profissional.
Foi nesse instante que o pai, um empreendedor de sucesso na época, com 16 anos de mercado com seus quatro salões Lord em galerias da cidade, propôs como presente de casamento uma loja para incentivar o jovem Kyrlei a iniciar a vida até que o ramo da construção civil voltasse a se aquecer.
Ele conta que a marca Lord já era consolidada no mercado, com conceito trazido do Rio e São Paulo pelo seu pai e que oferecia manicure para homens, algo inovador para a época e um verdadeiro diferencial para a década de 1960. “A Rua XV era o eixo nervoso empresarial da cidade, com funcionamento de entidades como Banco Central e Petrobras, onde o encontro dos empresários, além da Boca Maldita, era marcado também na Confeitaria das Famílias e na saudosa Confeitaria Schaffer”, relembra.
Diante de toda essa trajetória do pai e ponderando entre ficar sem emprego na engenharia e se tornar dono do próprio negócio, Kyrlei decidiu investir na segunda opção. Dos conhecimentos que aprendeu na faculdade com a engenharia, projetou o novo salão, que hoje é o maior da América Latina dentro de um shopping center, e dali em diante seguiu de vez o rumo do setor da beleza e estética. Da esposa, por sua vez, veio a contribuição de unir “Lady” ao nome “Lord” já antevendo a importância da participação do público feminino no negócio.
Percepção para acompanhar mudanças de hábito
Começava aí sua vocação de midas do setor de estética e beleza, expandindo os negócios já no primeiro ano de vida, passando de 72 metros quadrados para 150 m². A unidade passaria por mais ampliações, de 300 m², 600 m², 1.000 m² até chegar aos atuais 1.860 m². Tudo para acompanhar a tendência no atendimento às necessidades da mulher, cujas mudanças profundas começavam a aflorar na década de 1980. “Três meses depois que abrimos percebemos que o perfil das mulheres havia mudado. Estavam no mercado de trabalho, eram advogadas, empresárias, médicas sem tempo a perder com fofocas e exigindo rapidez. Foi isso que oferecemos naquela época e aperfeiçoamos até os dias de hoje”, ressalta.
Devendo atingir faturamento de cerca de R$ 45 milhões em 2012, Kyrlei hoje é presidente de uma vasta rede de franquias, formada por dez unidades no Paraná e duas em Santa Catarina. Ele aproveita o bom momento da economia, cujo setor movimentou R$ 30 bilhões em 2011 de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC). Isso representou um crescimento 12,8% se comparado aos números registrados no período anterior. “Temos cerca de mil famílias trabalhando na rede e fazemos parte dessa economia, que só tende a crescer junto com o desenvolvimento do país”, assinala.
Além disso, a quantidade de novos salões de beleza abertos no país também cresceu 78% nos últimos cinco anos. Segundo levantamento da Associação Nacional do Comércio de Artigos de Higiene Pessoal e Beleza (Anabel), o número passou de 309 mil, em 2005, para 550 mil, em 2010. O presidente da rede de franquias Lady&Lord, Kyrlei Boff, afirma que exemplo disso têm sido as consultas para abertura de franquias da marca. “Recebo em média oito a dez consultas por dia de todo Brasil. O melhor caminho hoje para quem procura montar um negócio do zero é procurar uma franquia e isso de qualquer ramo, de fast food a beleza e estética. No caso do franqueado, tenho notado que, quanto menos experiência, melhor ele se sai no negócio, porque tem menos vícios e confia em nosso know-how, deste modo, já damos o caminho das pedras e procuramos dar todo suporte e orientação”, descreve ele.
Para 2013, os planos sopram a favor da abertura de pelo menos outras dez franquias, expandindo desta vez para as primeiras unidades na região Sudeste. Como empreendedor adepto de passeios marítimos, comandando seu barco em alto mar, Kyrlei sabe ver além do horizonte e muito além dos maremotos que já o tomaram de assalto e aconselha. “A crise faz a humanidade avançar, senão o ser humano se acomoda. É só a dificuldade que traz crescimento”.
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