A loja colaborativa Endossa, que aluga espaço para artesãos, é um modelo de negócios em expansão. Com a fila de designers, estilistas e outros produtores, que esperam, no mínimo, seis meses para expor seus produtos na unidade rua Augusta, em São Paulo, os donos viram a oportunidade de transformar o formato em rede de franquias.
Em São Paulo, a Endossa já abriu mais uma unidade no Centro Cultural São Paulo. Chegou a Curitiba e a Brasília, e agora procura parceiros para entrar nos mercados do Rio e de Belo Horizonte.
A expansão, no entanto, não tem pressa. “Nossa prioridade é estar sempre no melhor ponto comercial possível para evitar concorrência. Isso demanda um investimento alto, por isso, selecionamos bem os franqueados”, afirma Gustavo Ferriolli.
Formato nasceu inspirado na internet
A inspiração para criar o formato de loja, que consiste na exposição dos produtos em caixas que vão se atualizando de acordo com a aceitação do público, veio da web 2.0, conceito de colaboração entre internautas e os sites e serviços virtuais.
Em 2008, os sócios e então estudantes de publicidade Gustavo Ferriolli, Carlos Margarido e Rafael Pato estruturaram a ideia e abriram as portas da primeira Endossa no endereço mais descolado de São Paulo, a rua Augusta.
Assim como acontece no site Wikipedia, por exemplo, em que o leitor produz e edita o conteúdo da página, na loja colaborativa, são os clientes que definem o que fica e o que sai das prateleiras. Ao mesmo tempo em que oferece aos artesãos o espaço físico para exporem seus trabalhos, dão aos clientes a chance de encontrar nas prateleiras os itens que mais despertam interesse.
Como funciona a loja colaborativa
A loja aluga caixas para os artesãos e microempreendedores venderem seus produtos, oferecendo toda a infraestrutura, inclusive vendedores e meios de pagamento. O contrato é mensal e pode ser estendido se o expositor atingir a meta de vendas, que é proporcional ao tamanho do espaço que ele ocupa. Atualmente, os valores do aluguel das prateleiras variam entre R$ 160 e R$ 800 (serão reajustados a partir de setembro).
Ferriolli diz que os únicos itens que não podem ser vendidos são alimentos, bebidas alcoólicas e cigarros. “Não há pré-requisitos para vender na Endossa, porém, sabemos que o público que nos visita procura coisas diferentes”, afirma. Os espaços são alugados, principalmente, para quem produz artesanato, novos estilistas e designers.
A jornalista Viviane Kulczynski, que hoje se dedica à produção de roupas para bebês, acaba de inaugurar um espaço dentro da Endossa Brasília para vender produtos de sua marca, Manu Numas. Trata-se da única grife voltada ao público infantil na loja.
A ideia de desenhar e costurar surgiu da vontade de fazer roupas diferentes para sua filha, hoje com dois anos. Ela deixou para trás uma bem-sucedida carreira na área de comunicação, entrou para um curso de moda e passou a criar e confeccionar peças.
Inicialmente, ela divulgava seus produtos para amigos nas redes sociais e realizava vendas pela internet. “A internet dá um alcance grande, já vendi para Salvador e soube de peças minhas que foram até para a Angola”, declara.
Morando há pouco tempo na capital do país, ela aposta no nome forte da Endossa para tornar seus produtos conhecidos. “Quero atingir um público novo, estando presente em uma loja física. Gostei do conceito da loja colaborativa e espero ser endossada pelo público”, afirma.
Aprovação dos clientes garante permanência do artesão no espaço
Quando os clientes endossam o produto, o artesão garante sua permanência no espaço por mais tempo, daí o nome da loja. Caso ele não atinja as metas, seus produtos perdem o espaço. Esse conceito faz com que o estabelecimento tenha sempre novidades.
O faturamento da loja é proveniente exclusivamente do aluguel das caixas. Quem vende seus produtos na loja precisa pagar apenas uma taxa referente aos impostos e ao uso das máquinas de cartão de débito e crédito.
Além disso, a Endossa disponibiliza aos seus locatários um software de cadastro de produtos, acompanhamento de vendas e gestão do estoque. Assim, o artesão ou microempreendedor pode acompanhar de casa suas vendas. Entretanto, é necessário comparecer regularmente à loja para levar os produtos e organizar sua caixa.
Participar de loja colaborativa reduz custos de microempreendedor
Cissa Chiarini, especialista em marketing pela Unicamp e idealizadora do blog Assim, Sim!, de dicas de gestão para empresas criativas, diz que o modelo de loja colaborativa é uma boa alternativa para quem quer vender, mas não dispõe de recursos para investir numa loja própria. “Essas lojas, geralmente, têm boa localização, cuidam do espaço e investem em marketing”, diz.
Ela dá dicas para os interessados em vender em uma loja colaborativa. “Observe a localização da loja e o público que a frequenta, veja se tem a ver com os seus produtos. Escolha bem o espaço que vai alugar dentro da loja, para não ficar em uma prateleira muito alta ou muito baixa, por exemplo. Isso influencia no resultado das vendas. Veja também o cuidado que a loja tem com seu espaço físico e com segurança”, declara.
A consultora diz ainda que apenas estar presente em uma loja bacana não basta. “É fundamental pensar no seu produto. Quanto mais criativo ele for, melhor. Encontre formas de diferenciar seu produto da concorrência, inclusive na forma de organização dele dentro das caixas”, diz.
Modelo é replicado com adaptações
Com o sucesso da Endossa, que virou referência em artigos artesanais e descolados, surgiram outras lojas com o mesmo conceito e que querem trazer sempre novidades. É o caso da loja Colméia Colaborativa, de São Paulo.
A empreendedora e artesã Andréa Pedrosa passou a dedicar 40% do espaço de sua loja própria para vender produtos de outros artistas. “Conheci a Endossa e me apaixonei pela ideia. Seria maravilhoso se cada bairro tivesse uma loja colaborativa, ajudaria muito os artesãos que sofrem com chuva e sol em feiras”, diz.
Diferentemente da Endossa, ela realiza uma pré-seleção dos produtos quer serão vendidos na Colméia Colaborativa. “A minha loja já existe há 13 anos, já possui uma identidade própria. Então, seleciono de acordo com o perfil dos meus produtos e do meu público”, afirma. O contrato é trimestral e o locatário só paga pelo espaço, uma taxa de impostos e de uso de cartão de crédito e débito.