O franchising brasileiro faturou no ano passado R$ 127 bilhões, valor que representa um crescimento de 7,7% sobre o período anterior, de acordo com balanço da Associação Brasileira de Franchising (ABF). Para este ano, com base em estudos trimestrais e dados macroeconômicos, a entidade estima uma alta entre 7,5% e 9% — mesmo diante do cenário de incertezas econômicas.
A cada ano, é crescente o número de empresas que começam a operar neste modelo de negócio. Uma curiosidade, no entanto, é que o sistema tem atraído a atenção de jovens empreendedores, que veem no franchising a possibilidade de ampliar a abrangência de suas marcas a um custo bem inferior se comparado ao investimento em unidades próprias.
Amiste Café, Dr. Shape Suplementos, Freewet e Vó, Quero Bolo! não são apenas jovens no sistema, mas também são conduzidas por franqueadores jovens e cheios de novas ideias para tornar o sistema cada vez mais forte.
Amiste Café
Em 2012, quando tinha 30 anos de idade, o empresário Eduardo Vicente ajudou a estruturar um negócio bastante promissor no mercado de vending machines (máquinas de vendas automáticas). Junto com mais dois sócios, criou em Londrina (PR) a franquia Amiste Café, especializada na locação de máquinas automáticas de café e bebidas quentes para o mercado corporativo. O investimento inicial neste projeto foi de R$ 400 mil, considerando a franqueadora e duas unidades próprias. Não há concorrência direta para o negócio em franchising.
Atualmente, a rede conta com quatro unidades próprias em Londrina (PR), Campo Grande (MS), Maringá (PR) e Belo Horizonte (MG) e uma franquia em Curitiba (PR). As máquinas locadas pela Amiste oferecem diversas opções de cafés, bebidas quentes e até sopa de mandioquinha. Além disso, o escopo do negócio também compreende a venda de insumos para as máquinas, todos de marca própria.
No ano passado, a rede obteve uma receita de R$ 3,4 milhões. Para 2015, o objetivo é crescer 30% e ultrapassar a barreira dos R$ 4 milhões em faturamento. Neste ano, a empresa pretende abrir duas unidades franqueadas e alcançar um contingente de 100 máquinas locadas. Para Vicente, o grande atrativo do negócio é a boa margem que a locação das máquinas proporciona aos franqueados e o padrão no sabor dos produtos comercializados. “No setor de food service, essa padronização é fundamental”, observa o empreendedor, que optou pelo modelo de franchising para potencializar a disseminação da marca no País.
Formado em engenharia elétrica, Vicente – de 33 anos - começou sua carreira como trainee na Telefônica Vivo, em 2005. De lá, seguiu para a Votorantim, onde adquiriu amplas referências nas áreas de planejamento estratégico, desenvolvimento de novos negócios, fusões e aquisições. Em 2010, ingressou no Grupo Abril e foi neste período que surgiu o desejo por empreender. “Meus sócios, que são amigos de infância, já trabalhavam no segmento de máquinas automáticas em Londrina. Então, em 2011, decidimos entrar no mercado de franchising e criamos a marca Amiste, que começou efetivamente a operar como franqueadora no primeiro semestre de 2013”, relembra Vicente.
Dr. Shape Suplementos
A Dr. Shape, rede de franquias especializada em suplementos alimentares e artigos esportivos, nasceu há 13 anos e entrou no mundo do franchising em 2012. A motivação para isso foi clara: crescer nacionalmente ao lado de parceiros comprometidos com a filosofia da marca. Hoje, são 21 franquias em operação e mais 26 em fase de implantação. “O sistema de franquias é excelente e os números mostram que é muito mais seguro abrir um negócio já testado e estruturado do que partir para uma carreira solo”, avalia Felipe Kalaes, um dos sócios da rede.
O executivo, que possui apenas 30 anos de idade, destaca que a Dr. Shape é muito mais do que uma rede de suplementos alimentares. Ele explica que as lojas também oferecem vestuário fitness, artigos esportivos, equipamentos funcionais, artigos para lutas, natação e outras atividades físicas. “Os clientes que buscam bem-estar, saúde, qualidade de vida, boa forma e melhor performance encontrarão na Dr. Shape os principais produtos e novidades do mercado”, afirma Kalaes. “Além disso, todas as franquias contam com consultores bem treinados para atender os clientes e também nutricionistas e personal traineres parceiros para orientá-los sobre a forma correta de treinar e se alimentar.”
Felipe Kalaes, formado em administração de empresas, conta que o fundador da rede era seu amigo e, por isso, surgiu a oportunidade de entrar no negócio. “Fui estudar este setor e encontrei uma grande oportunidade de expansão, pois não havia naquele momento nenhuma marca que se destacava no mercado nacional”, relembra. Para ele, este segmento irá se fortalecer conforme as pessoas tiverem mais conhecimento sobre os benefícios do consumo de suplementos alimentares, vitaminas e minerais, pois ainda há muita falta de informação sobre este tema. “Vemos, por exemplo, nos Estados Unidos, uma fatia muito grande da população que consome esses produtos, pois sabem que a dinâmica da vida atual não permite que todas as necessidades do organismo sejam atendidas.”
O sócio da Dr. Shape cresceu numa família com profunda experiência e atuação em franquias. Entrou em contato com o empreendedorismo ainda na adolescência, aos 16 anos. Seu pai montou dentro do clube Palmeiras, em São Paulo, uma pequena franquia de cursos de informática, de idiomas e profissionalizantes e o colocou, ao lado do seu irmão, para tocar o negócio. “Enquanto meus amigos jogavam futebol no período da tarde, eu já tinha o compromisso de ganhar o meu próprio dinheiro. Aprendemos muito e, dez anos depois, tínhamos uma escola de 350 m² e mais de mil alunos matriculados”, conta Kalaes.
Freewet
Quem também deu os primeiros passos rumo ao empreendedorismo aos 16 anos foi Marcos Soares, de 39 anos, sócio-fundador da Freewet, rede de lavagem de carros totalmente a seco – que não utiliza nenhuma gota de água nem mesmo na diluição do produto que faz a limpeza. Naquela ocasião, seu primeiro negócio foi uma loja de esportes. Em seguida, atuou por cinco anos em uma multinacional automotiva, onde teve a oportunidade de passar por alguns cargos de gerência, e, após um período fora do Brasil, começou a investir, aos 30 anos de idade, em projetos com potencial de ajudar pessoas. Nesta lista estiveram empresas de treinamento, consultorias, plano de saúde e até cartões de benefícios.
Foi em 2011 que nasceu a Freewet e, três anos depois, o negócio evolui para o modelo de franchising. “Eu tinha a bagagem adquirida em anos de Europa, onde fiz um trabalho muito legal com limpeza a seco, e meu sócio já tinha uma indústria química. Como nossos valores estavam alinhados, optamos por esta empreitada”, conta Soares, que é formado em Engenharia de Produção Mecânica e fez Marketing e Gestão na ESADE Business & Law School, em Barcelona.
Hoje, são 112 franquias em operação e 65 em preparação na fase de contratos e treinamentos. Para o executivo, a maior vantagem em ser um franqueador é a rápida expansão da empresa a baixo custo. “No sistema de franquias, são os franqueados que arcam com as despesas da montagem e instalação de seus negócios. Sendo assim, o retorno é rápido e elevado. Outra vantagem é poder consolidar a marca da empresa no território nacional”, ressalta o empresário.
De acordo com Soares, o crescimento da rede tem sido contínuo e o ano de 2014 foi muito positivo para a empresa. E a maior conscientização sobre a importância de economizar água está favorecendo o desempenho da Freewet. “Há três anos, apareciam no máximo três candidatos por mês e, atualmente, recebemos pelo menos 30 interessados por dia”, revela. “Para 2015, o nosso cenário será de crescimento exponencial, porque temos muitas parcerias que entrarão em operação.”
A Freewet tem como filosofia não cobrar taxa de franquia e de publicidade. Também concede 60 dias de carência para que a franquia comece a pagar os royalties. Seus produtos são todos biodegradáveis e registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, além disso, a empresa possui uma cultura de crescimento interno. O atual gerente de treinamentos, por exemplo, foi o primeiro franqueado da rede.
Vó, Quero Bolo!
A história da rede Vó, Quero Bolo! começou em dezembro de 2013, quando os sócios Fernando Cachulo, de 37 anos, e Willians Navarro, de 33 anos, inauguraram as duas primeiras lojas da empresa, que atualmente conta com seis unidades próprias. A entrada no franchising aconteceu em janeiro de 2015, motivada pela possibilidade de difundir rapidamente a marca junto a parceiros que compartilhem da mesma filosofia. No total, considerando as lojas e a estruturação da franqueadora, a dupla investiu R$ 1,5 milhão.
A comercialização da franquia começou muito recentemente, em março, e a meta da companhia é abrir oito franquias neste ano. Para o futuro, os planos são grandiosos e preveem um total de 250 franquias em 10 anos e a expansão da marca para outros países.
Fernando Cachulo conta que o negócio nasceu diante da busca por um segmento que estivesse pouco desenvolvido no Brasil, que não fosse um modismo, que atingisse todas as faixas etárias e classes sociais e tivesse grande potencial de crescimento. “Depois passamos a mapear todas as empresas existentes neste mercado e a identificar todas as suas falhas e pontos fracos”, conta o empresário. “Em seguida, desenvolvemos durante quatro meses um plano de negócios extremamente detalhado e minucioso visando lançar uma nova marca no mercado. Hoje, o nosso objetivo é trazer para as pessoas o verdadeiro conceito de bolo caseiro sem nenhum tipo de conservante, estabilizante, aromatizante ou corante.”
Segundo os sócios, a filosofia deles é vender somente aquilo que eles comprariam com confiança e compartilhassem com suas famílias. Willians Navarro também pontua que diversos são os diferenciais da rede, como o oferecimento de cartão fidelidade, entregas delivery, operação de algumas das unidades sete dias por semana e a estruturação de um centro de treinamento e de uma central de compras para que o franqueado reduza seu custo com insumos e amplie sua margem. “Além disso, também temos o maior mix de produtos deste segmento. São mais de 40 sabores de bolos doces, salgados e especialidades, com opções sem glúten, sem lactose, diet, light, integral e mais nove tipos de coberturas feitas de forma artesanal”, descreve o empreendedor.
Motivados com a empreitada, os sócios também pleiteiam contribuir, por meio do envolvimento com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), com o fortalecimento e profissionalização do mercado de franquias. Bagagem não lhes falta para isso. Formado em administração de empresas, Fernando Cachulo tem 15 anos de experiência na área comercial de bancos, onde atuava antes de empreender. Já Willian Navarro, formado em ciência da computação e pós-graduado em administração de empresas, coleciona 12 anos de vivências nas áreas financeira e comercial de bancos, sendo nos últimos três anos com foco em análise de empresas de grande porte.
