Nunca antes na história deste país (não resisti!) tantos shoppings estão sendo projetados e construídos. Outros tantos vêm sendo ampliados. Nos próximos cinco anos, quase 80 novos shopping centers deverão surgir. Considerando que o mercado de shoppings no Brasil acaba de completar 45 anos e conta hoje com 418 empreendimentos, vamos ter até 2016 o mesmo número de shoppings que historicamente demorariam 13 anos para serem construídos.
Corrobora para isso o aquecimento da economia, com fortes perspectivas no aumento do consumo, que vive neste momento forte transformação. Cidades em crescimento, enriquecimento da população, transferência de renda, a Geração Y, Olimpíadas e Copa do Mundo, pré-sal, agronegócios, obras governamentais, todos abrem caminho para a proliferação de diversos novos centros de consumo espalhados por todo o Brasil. Muitas cidades médias começam a receber seus primeiros shopping centers e, num fenômeno recente, algumas delas já estão recebendo os segundos e até terceiros empreendimentos.
Os tradicionais centros comerciais de rua do passado, onde nossos pais compravam, começam a ceder espaço para os caixotes cheios de lojas modernas e coloridas, com sistemas de ar condicionado, segurança e entretenimento. As marcas que os famosos vestem; os sanduíches que só se comiam nas capitais; e a facilidade de acesso aos mesmos produtos e serviços que se vê na televisão e nas revistas exercem um poder de fascínio inigualável para a emergente classe média brasileira.
Todos esses indicadores têm atraído os grandes players do mercado mundial de shopping centers. Viramos a bola da vez para essas empresas, que elegeram o país como uma prioridade de expansão dentro do contexto mundial. Gigantes como os grupos Sonae, Westfield, GGP, Ivanhoe e Brookfield já chegaram. A BR Malls, que tem entre seus acionistas o grupo GP, é a maior empresa de shoppings do Brasil, com 43 centros comerciais, e tem pretensões de se tornar em breve uma multinacional. Todas elas têm planos agressivos de expansão.
Daí surge um dilema para o varejista ou franqueador: expandir ou não sua rede numa cidade que receberá o seu primeiro shopping center ou, mais difícil ainda, abrir mais uma unidade na mesma cidade. Quais as chances dessa loja canibalizar a outra? O estudo de mercado aponta a viabilidade de apenas uma loja na cidade: e agora? Apostar no novo empreendimento implica muitas vezes num exercício de futurologia, pois o empreendimento pode “não pegar”. Mas... e se “pegar”?
Analisando o histórico dos shopping centers nos últimos dez anos, cerca de 90% dos shoppings não “pegaram” logo que abriram suas portas, 30% deles demoraram dois anos para “pegar” e 40% precisaram de três anos. Pior foram alguns deles, que demoraram cinco e, em certos casos, até dez anos para acontecerem. E existem também aqueles que de fato nunca “pegaram” ou seja, micaram.
Nesta fase expansionista é preciso tomar alguns cuidados e fugir dos micos, sabendo escolher os empreendimentos com menor e maior chance de risco. Evidentemente existem muitos bons projetos despontando, mas a pergunta que se faz é, em alguns casos, até mesmo pelo bom momento que determinadas regiões atravessam, se existe mercado consumidor para tantos shoppings. Imagine uma cidade que nunca teve um shopping na cidade e de uma hora para outra recebe dois simultaneamente? E se essa cidade possuir 120 mil habitantes, um shopping para cada 60 mil pessoas (?!).
Os shoppings certamente estão dando sua colaboração para o crescimento e o fortalecimento da economia. Os investimentos que chegam às diversas regiões, aliados ao desenvolvimento de novos produtos e serviços trazidos por redes varejistas e de franquias, democratizam os hábitos de consumo dos brasileiros e fazem com que cada vez mais os brasileiros se alinhem às nações desenvolvidas, tornando a classe média mais madura. Aos lojistas, surge a oportunidade de ingressar e crescer com os shoppings, tomando evidentemente os cuidados na escolha, sem euforias e com a cautela necessária. Entendendo que os shoppings vieram para ficar e são um caminho sem volta no panorama das cidades brasileiras.