Quanto mais desafiador um negócio possa ser, lá está o gaúcho Mário Spaniol, diretor-presidente da grife de sapatos e acessórios Carmen Steffens (nome que homenageia sua mãe). Sua última façanha envolveu a negociação com um jornaleiro. Tudo porque o ponto escolhido para instalar a mais nova loja-conceito nos Jardins, em São Paulo, tinha uma banca em frente, na calçada. A instalação destoaria do sofisticado espaço que consumiu investimentos de R$ 1,5 milhão. ''O impossível não existe. Foi demorado convencer o jornaleiro, mas conseguimos'', comemora. No dia 18 de novembro, a Carmen Steffens abria as portas desse ponto para a clientela, formada principalmente por mulheres das classes A e B.
Assim como na jogada para liberar a calçada em São Paulo, o começo da empresa enfrentou vários obstáculos. ''Quando me instalei em Franca (SP), decidi apostar numa indústria de couro por reconhecer o potencial da região'', diz. Era inaugurada, em 1983, a Couroquímica, fornecedora para diversas indústrias locais. Mais tarde foi criada a Carmen Steffens. O negócio surgiu porque ele acumulava um longo currículo no setor - desde os 12 anos trabalhava no segmento.
Mas foi somente dez anos após sua chegada a Franca, já com a empresa na liderança do setor, que Spaniol se interessou em criar a Carmen Steffens. Para isso, investiu R$ 1 milhão, em 1993, na contratação de 60 funcionários, maquinário, fábrica, entre outros. Diferentemente de toda a sua concorrência na cidade paulista, focou no calçado feminino. O impossível mais uma vez cairia por terra. ''Encontrei uma enorme dificuldade, porque toda a mão-de-obra era especializada no masculino. Tive que ser um pouco bandeirante e formar um novo grupo'', conta. Após ultrapassar essa barreira, teve um prejuízo de R$ 4 milhões nos três primeiros anos. ''Não tinha escala. Então, não consegui diluir o investimento feito nesse negócio com muitos lançamentos a cada seis meses'', diz. Mesmo assim, seguiu em frente.
Com a entrada de sua esposa, Monalisa Spaniol, em 1996, a empresa começou a viver uma nova fase. ''Ela entrou para fazer a parte criativa, afastando o ar muito clássico e sóbrio para transformar a marca em moda'', afirma. Lentamente, segundo ele, a trajetória mudou. Com as primeiras lojas em Franca e Uberaba (MG), nesse mesmo ano, o empresário pôde avaliar como as consumidoras da marca sentiam e desejavam o produto. Ali, a Carmen Steffens dava seus primeiros passos na expansão por meio de franquias. Pelo Brasil, são 127 unidades franqueadas, além do modelo de licenciamento adotado pela marca para cidades que não tenham shopping e vivam do comércio de rua. Até 2010, a intenção é chegar a 200 franquias no País.
Só no mês passado, além da loja-conceito dos Jardins, a marca inaugurou outras onze lojas em diversos estados. ''Acredito que São Paulo, Rio, Curitiba e Belo Horizonte ainda não reconhecem a marca como no restante no Brasil. Por isso, são cidades que receberão muitas unidades'', informa.
Na esteira de operações bem-sucedidas no Brasil, a grife também despertou interesse do exterior. A empresa tem lojas em Portugal, Estados Unidos, Arábia Saudita, Austrália, Uruguai, Paraguai e Argentina. Para o futuro, o empresário mira na Austrália, Japão, China, África do Sul, Angola, Canadá, além de outros vizinhos na América do Sul. Em Barcelona e Montevidéu as inaugurações estão programadas para março de 2009. Para ele, o ideal é que até 2020 a marca esteja presente entre 30 a 40 países. Em 2007 o faturamento foi de R$ 97 milhões, com estimativa de crescer 15% este ano. ''Neste momento de crise, acredito que muitos consumidores que costumam gastar em grifes como Louis Vuiton e Prada venham a optar por comprar os produtos'', espera.