O cotidiano sempre foi corrido para Delfino Golfeto, nascido em Adamantina e que ainda jovem se mudou com a família para Tupã. O pai queria que os filhos aprendessem desde muito jovens a se sustentar, então, ainda criança, Golfeto trabalhava na lavoura, como cortador de cana. Foi assim, de uma forma que poderia ser considerada triste e difícil, que ele começou a definir o empreendedor em que se tornou, hoje dono da rede de franquia Água Doce.
A paixão pelo cultivo do açúcar e álcool, bem como seus usos, despertaram seu interesse desde cedo. Ao terminar o ensino médio, ele procurou um curso técnico na área, e foi para a renomada Escola de Agronomia Luiz de Queiroz, de Piracicaba, a Esalq: “Saí de lá já empregado. Entre 1978 e 1990, fui gerente de uma usina e a atividade exigia que visitasse muitos bares. Nessa época já acalentava o sonho de abrir um estabelecimento que servisse bebida e comida de qualidade e atendesse de maneira profissional, ao contrário de muitos que conhecia”.
Os conhecimentos, a ousadia e os contatos – Golfeto sempre foi sociável – o levaram a abandonar a promissora carreira administrativa e arriscar a abertura de negócio próprio.
Paralelamente, Golfeto criou o hobby de degustar cachaças e classificá-las. Tornou-se um especialista no assunto e conhecia desde pequenos produtores até as marcas mais famosas. Ele se tornou um conhecedor tão profundo da cachaça que ganhou o título de “o Embaixador da Cachaça no Brasil” dentro do segmento.
O negócio
Em 1990, abriu na garagem de casa, em Tupã, a Água Doce Aguardenteria. Sua facilidade para selecionar boas bebidas, aliada à boa mão da esposa Silvia Maria para quitutes, ajudou a fazer a fama. Em um pequeno balcão improvisado, ele servia cachaças e coquetéis inovadores para degustação.
Dois anos depois, com o negócio consolidado, chegou o momento de criar a Água Doce Cachaçaria e seu sistema de franquias, que em apenas doze meses fez surgir doze lojas. Tempos depois, o nome da empresa foi levemente modificado, tornando-se Água Doce – Sabores do Brasil.
Golfeto mantém seu quartel-general – no trabalho e na vida pessoal – em Tupã. A esposa Silvia Maria é gerente da unidade piloto móvel; o filho, Adriano Luiz, administrador, atua na gestão da rede; e a filha Andressa, estudante de Nutrição, também trabalha na empresa. A necessidade de viagens frequentes o levou a comprar um avião bimotor para permitir-lhe visitar com agilidade os franqueados em todo o País. “Tupã é minha história. Lá iniciei minhas atividades, criei minha família e o Museu da Cachaça, onde exponho minha coleção de 2 mil garrafas de cachaças raras e conto a história da bebida e da própria Água Doce”, revela.
Os anos 2000, com o país mais estável e a política econômica em expansão, trouxeram a Golfeto ainda mais ânimo. Decreto assinado em 2001 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso institucionalizou a cachaça como a bebida genuinamente brasileira. O empresário havia lutado muitos anos ao lado de produtores do ramo para conquistar o título, a exemplo do champanhe francês e da vodca russa. Cinco anos se passaram e chegou outra conquista: o Selo Excelência em Franchising, conferido anualmente às melhores franquias pela ABF (Associação Brasileira de Franchising) por seu desempenho. “Esse foi o primeiro, acabamos de ganhar outro neste ano”, brinda, orgulhoso.
Muito além da cachaça
Embora já tenha levado cachaça no nome, a bebida é responsável por apenas 3% do faturamento da rede. Cada loja dispõe, em média, de 100 rótulos, incluindo seis de marca própria. Praticamente todos os dias, Golfeto prova novas cachaças enviadas por fabricantes.
O título de Embaixador, conferido informalmente a Golfeto, deve-se principalmente à sofisticação que começou a surgir a partir de suas ações. Ele tirou a cachaça do “limbo” em que se encontrava, sempre alvo de preconceitos e discriminações. Afinal, o maior consumidor da “marvada pinga” sempre foram os frequentadores de botecos. Com sua movimentação, isso mudou: “Sempre fiz questão de qualificar a cachaça bem produzida, atribuindo à bebida o prestígio que merece”.
A franquia
A Água Doce, composta por mais de 80 lojas franquias que levam às cinco regiões os melhores Sabores do Brasil, fechou 2017 com um discreto aumento em seu faturamento: 0,15%. Ao longo do ano, a Água Doce seguiu inserindo novidades no cardápio a cada quatro meses. Marcou presença na mídia e nas redes sociais, promoveu campanhas direcionadas a clientes e à brigada, incentivou os franqueados a oferecer o serviço de delivery e promoveu treinamentos e cursos na Uniágua Doce para capacitar os franqueados.
De acordo com o Diretor de Franquias, Júlio Bertolucci, as perspectivas para 2018 são positivas – e a Água Doce quer estar preparada para seguir oferecendo aos clientes uma excelente experiência gastronômica. “Pesquisas apontam que o consumo fora de casa voltará a crescer. Por esta razão, sabemos que nossas casas precisam ser ainda mais atrativas e inovadoras”, diz.
E a rede nem pensa em confirmar esta previsão apontada pela pesquisa para se mexer. “Promoveremos pesquisas junto ao mercado para saber o que as pessoas querem – e tentaremos atendê-las em seus desejos e necessidades. Também estão nos planos potencializar o delivery, ter um cardápio digital, seguir com ações de endomarketing, revitalizar algumas casas e adotar ações de ‘perda zero’”, completa o Diretor.
Em 2017, a marca lançou das duas novas franquias Rei do Escondidinho e Água Doce Express. O Rei do Escondidinho é inspirada no prato campeão de vendas da rede. “Após vários estudos, somados à nossa experiência no ramo gastronômico, sentimos que por trás do Escondidinho havia uma excelente oportunidade de negócio. Assim nasceu a franquia, que oferecerá, por meio de quiosques instalados em shoppings, centros comerciais, supermercados e outros pontos com grande circulação de pessoas, este delicioso prato, em porções individuais e sabores variados”. O investimento num quiosque é de aproximadamente R$ 168,5 mil.
Já a Água Doce Express é uma nova formatação da Água Doce. São casas menores, ideais para praças de alimentação, em shoppings, centros comerciais ou ruas de grande movimento, que servirão almoços, jantares e petiscos para a happy hour. “Teremos versões individuais de pratos que são um sucesso absoluto na Água Doce, como a Família Escondidinho (nas versões de carne de sol, frango, bacalhau e camarão); Filé Água Doce (parmegiana de carne, frango e peixe) e outras pedidas exclusivas da Express”, comenta Júlio Bertolucci, Diretor de Franquias. Numa Água Doce Express, serão investidos R$ 200 mil, dependendo da localização. O valor inclui a taxa de franquia, de R$ 35 mil, o projeto arquitetônico e a implantação do negócio (sem incluir a reforma do imóvel).