Seguindo tendência já verificada ao longo do ano, as projeções para o mercado de crédito no Brasil apontam para um desempenho robusto, tanto em 2022 quanto em 2023. Após o crescimento atípico registrado em 2020 e 2021, a carteira total de crédito manteve-se em expansão forte em 2022 e deverá seguir acima do crescimento observado no período pré-pandemia (6,5% em 2019) em 2023, elevando-se em 8,2%, revela a Pesquisa FEBRABAN de Economia Bancária e Expectativas.
As projeções feitas pelos bancos sobre o mercado de crédito em 2023 apontam um leve recuo ante a pesquisa anterior, de novembro, que previa alta de 8,4%. Essa queda deve-se à menor expectativa de crescimento econômico e taxas de juros mais altas. Já para o ano de 2022, a pesquisa captou nova melhora na projeção de crescimento da carteira total, elevando de 14,1% (novembro) para 14,8%. Essa melhora decorre principalmente das surpresas positivas com os números mais recentes da economia, especialmente nas linhas de crédito com recursos direcionados, como os programas públicos.
A Pesquisa FEBRABAN, realizada com 20 bancos entre 13 e 20 de dezembro, é feita a cada 45 dias, logo após a divulgação da Ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), e reúne as percepções das instituições financeiras sobre o documento do Banco Central e as projeções para o desempenho das carteiras de crédito no ano corrente e no próximo.
Fiscal e Selic
A preocupação dos analistas com os rumos da política fiscal se espelhou no adiamento do período esperado para o início do processo de flexibilização da política monetária (queda da taxa básica de juros) e na revisão da tendência de crescimento da economia.
A pesquisa captou que a grande maioria (75%) dos participantes espera que o início da flexibilização ocorra apenas a partir do 3º trimestre de 2023, nas reuniões de agosto ou setembro. Na pesquisa anterior, a maioria dos analistas (60%) apontava que isso ocorreria no 2º trimestre. Ainda 20% dos participantes indicam que a Selic deve começar a cair só no 4T23, algo não apontado na pesquisa anterior.
A pesquisa é um alerta sobre a necessidade de rigor na política fiscal e no controle dos gastos públicos”, avalia Isaac Sidney, presidente da Febraban, que completa: “Com o cenário externo ruim com inflação elevada, juros altos e atividade em desaceleração e o quadro doméstico igualmente desafiador, temos de buscar uma âncora fiscal forte e crível e firme controle da inflação. Não enxergo outra direção senão perseverar nesses fundamentos econômicos para arrumar a casa”.
“Para a maior parte dos entrevistados, a tramitação da PEC da Transição resultou em alteração tanto do início da flexibilização monetária quanto em uma elevação da taxa terminal da Selic em 2023. Apenas 25% afirmaram que não alteraram suas projeções para a taxa Selic”, aponta Rubens Sardenberg, diretor de Economia, Regulação Prudencial e Riscos da Febraban. Esse resultado reforça a importância de que o novo governo defina o mais rapidamente possível a nova âncora fiscal da economia, complementa o diretor da Febraban.
Pela pesquisa, a mediana das projeções passou a projetar que a taxa Selic fique estável em 13,75% ao ano até junho de 2023 e só a partir de agosto seria iniciada a flexibilização da política monetária. Os participantes também ficaram divididos se o corte inicial seria de 0,25 pontos percentuais ou 0,50 pp.
Câmbio
Para o câmbio, houve também uma revisão negativa das expectativas. Os entrevistados avaliam que o valor da moeda americana se mantenha na faixa de R$ 5,30 no 1º semestre de 2023 (ante expectativa de valor entre R$ 5,20 a 5,25 na pesquisa de novembro).
PIB
A pesquisa captou que é maior o contingente de bancos que espera um crescimento menor em 2023, em relação à pesquisa anterior. Antes, 70% dos participantes esperavam um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) entre 0,5% e 1,0% no ano e agora esse contingente caiu para 65% dos entrevistados. O percentual daqueles que acreditam que a economia brasileira não deve crescer mais de 0,5% passou de 25% para 30%.
Crédito
Para 2023, o ligeiro recuo do aumento da carteira de crédito (de 8,4% para 8,2%) é resultado da expectativa de menor crescimento da carteira com recursos livres (de 10,0% para 8,6%), enquanto a expectativa para a carteira com recursos direcionados subiu (de 6,1% para 7,7%).
Para 2022, a elevação da projeção da carteira total deve-se à expansão esperada para a carteira com recursos direcionados, cuja expectativa subiu de 10,2% (novembro) para 13,3%. A projeção para a carteira pessoa física direcionada passou de 13,1% para 16,7%, diante do forte desempenho do crédito rural. Já a expectativa de alta da carteira pessoa jurídica subiu de 5,3% para 7,3%, diante da nova rodada dos programas públicos de crédito (Pronampe e PEAC-FGI), que seguem demonstrando elevada demanda.
A projeção para a carteira com recursos livres caiu, passando de uma alta de 17,3% para 16,3%. A piora foi puxada pela carteira PJ (de 14,3% para 12,9%), que tem mostrado menor dinamismo recentemente, provavelmente, por conta da maior oferta de crédito direcionado e sinais de desaceleração da atividade.
“Enquanto isso, a projeção para a expansão da carteira pessoa física livre subiu de 18,2% para 19,0%, refletindo o forte desempenho das linhas atreladas ao consumo, como o cartão de crédito e crédito pessoal”, explica Rubens Sardenberg.
Os números do ano serão divulgados pelo Banco Central no final de janeiro.
Inadimplência
A pesquisa também mostra piora das expectativas para a inadimplência da carteira livre. Para 2022, a projeção subiu de 4,3% (em novembro) para 4,4%, enquanto para 2023 avançou de 4,4% para 4,7%. Em outubro, a inadimplência desta carteira estava em 4,2%.
Inflação
Também foi observada uma piora das projeções para a inflação. Agora, 70% dos entrevistados acreditam como improvável o cumprimento da meta de inflação em 2023, ante 60% em novembro. O restante (30%) acredita que o IPCA ainda deve ficar dentro do intervalo de tolerância, cujo centro é de 3,25%, podendo variar entre 1,75% e 4,75%.
Mercado americano
Quanto ao aperto monetário nos Estados Unidos, os participantes ficaram relativamente divididos sobre o patamar final dos juros. Para 55%, o Federal Reserve (Banco Central norte-americano) terá que ser um pouco mais agressivo e levar os Fed Funds até 5,5% aa. O restante (45%) não vê necessidade de os juros ultrapassarem os 5,0% aa dada a recente desaceleração dos preços e da atividade.
Fonte
FEBRABAN