Em novembro de 2022, aconteceu a 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP27) e o Ministério de Minas e Energia Brasileiro apresentou ao mundo seus planos para ampliar a oferta de energias renováveis, colocando o Brasil como o país da energia verde. De acordo com o Ministério, políticas públicas estão sendo criadas para acelerar o desenvolvimento da eólica offshore no país, o que pode aumentar nossa capacidade de geração - uma vez que a costa brasileira tem uma capacidade de geração de 700 GW.
É claro que observo essa iniciativa brasileira com excelentes olhos, mas como especialista em planejamentos ágeis, me chama atenção os desafios enfrentados para aplicação desses planos. Afinal, quando observamos processos produtivos, é preciso olhar para os pontos estruturantes a serem trabalhados.
Vejamos, após a resolução normativa publicada no primeiro semestre, o Brasil observou uma corrida por licenciamento de novos projetos eólicos offshore. Atualmente, cerca de 65 projetos estão em processo de licenciamento ambiental. E este é só o primeiro passo, ainda existem alguns gargalos a serem vencidos.
Se analisarmos o contexto internacional, a previsão é de um mercado europeu bastante aquecido - como reflexo das consequências da guerra entre Rússia e Ucrânia. Na União Europeia, áreas propícias para energia eólica e solar já foram mapeadas para terem um processo acelerado de licenciamento, o que pode prejudicar os planos brasileiros, uma vez que parte dos componentes das torres eólicas é importada.
Um segundo ponto que podemos identificar como gargalo é o próprio processo de licenciamento brasileiro, existem hoje diferenças no fluxo de processos entre estados brasileiros, e o aquecimento previsto para os próximos anos irá precisar de uma ampliação de equipe técnica por parte dos órgãos ambientais.
A cadeia de suprimentos também é um desafio. Só em agosto deste ano, o país perdeu um importante fabricante de torres eólicas. A GE fechou sua fábrica na Bahia, reduzindo ainda mais a gama de empresas capazes de atender a forte demanda para torres eólicas onshore e futuramente offshore.
É inegável que estes planos são benéficos para nossa economia e desenvolvimento, principalmente para o Sul do país. Hoje, a maior parte das fábricas de Torres estão concentradas no interior do nordeste, mas parte desses novos projetos de eólica offshore em licenciamento, estão na costa do Rio Grande do Sul, o que sinaliza um movimento direcionado de novas fábricas na região reduzindo assim o custo logístico e impactando no desenvolvimento local.
O Brasil tem um grande potencial para ser o "país das energias verdes", mas é preciso enxergar claramente todos os obstáculos que nos atrapalhem de alcançar o objetivo final que é se tornar a maior fonte de energia renovável do mundo.
*por Marcus Fireman sócio-fundador da Climb (RS) e especialista em Lean.