O assunto do momento são as startups unicórnio: empresas que começaram pequenas, mas que tiveram a capacidade de trazer algo tão inovador ao mercado que impactaram o mundo e foram avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares antes da abertura de capital na bolsa de valores. Spotify e Snapchat são bons exemplos de startups unicórnio.
Quando fazemos a análise da viabilidade de uma marca para que ela se torne uma franqueadora, são vários os pontos estudados. Primeiro, pensamos na capacidade de aquele negócio se multiplicar, já que o franqueador concederá ao franqueado o direito de usar sua marca e de oferecer ao mercado produtos e serviços que seguem padrões formatados. Quem procura determinada bandeira sabe que, ali, se oferece algo idêntico ao da na mesma empresa localizada há centenas de quilômetros daquele lugar, porque a franquia mantém um padrão pré-estabelecido, controles de fornecedores e de serviços prestados. Se o negócio é capaz de se replicar com certa facilidade, ele é franqueável.
Depois, ele precisa ser rentável, porque alguém investirá capital nele e o objetivo é que haja o retorno desse investimento, com lucro. Também é imprescindível que a cadeia de abastecimento seja eficiente e que o suporte oferecido tenha condições de chegar aonde o franqueado esteja, porque ele precisará de apoio em sua operação.
Pode até ser que uma startup unicórnio possa ser um negócio que utilize os conceitos de franquia para se expandir, porque a formatação das franquias é adotada por muitas companhias que desejam padronizar e replicar processos em suas filiais. Porém, dificilmente se encontrariam franquias unitárias de empresas de alguns milhões de dólares nas prateleiras das consultorias de expansão.
Entretanto, pensando nas startups que não são unicórnio – ou seja, não são avaliadas em bilhões de dólares, mas, são aquelas empresas que começam pequenas e que crescem rapidamente por seu potencial inovador – seriam elas boas opções de franquia?
Sim e não. Quem compra uma franquia tem duas opções: adquire uma marca de um franqueador que testou o mercado, operou o negócio por determinado tempo, entendeu o consumidor, errou e acertou e está mais preparado para ajudá-lo a enfrentar o começo de sua história empreendedora ou adquire uma marca que não foi testada e assume o risco de começar a história junto com o franqueador, enfrentando o que vier pela frente. No caso das startups, se elas não tiverem tempo suficiente para testarem o mercado, o franqueado assumirá o risco de investir em uma marca inexperiente e pode dar muito certo ou ser um fracasso. Negócios de um único produto – paleterias, brigaderias, cupcakerias, bolaterias, entre outras – foram febres que surgiram como startups e que deixaram profundas marcas no mercado – das quais, muitos empreendedores se arrependem.
O Franchising precisa de tempo. Antes de franquear um conceito, faz-se necessário que o futuro franqueador tenha operado o negócio. Ele precisa errar e acertar antes de multiplicar uma história de sucesso. O próprio projeto da nova lei de franquias, se aprovado, só permitirá que se torne franqueadora aquela empresa que já estiver operando por dois anos – e esse será um dos avanços do sistema. As startups, sem dúvida, são a evolução mercadológica que faltavam para sacudir o mundo, principalmente na área tecnológica. Mas, em Franchising, é preciso ter cuidado com o capital do outro, porque ele, geralmente, representa o investimento de toda uma vida.
* Melitha Novoa Prado é advogada, especializada em relacionamento de redes, franchising e varejo, com MBA em Gestão em Varejo para Franquia da Fundação Instituto de Administração (FIA). Atua há mais de 30 anos com as maiores franqueadoras do Brasil em consultoria jurídica preventiva. É membro da ABF – Associação Brasileira de Franchising e autora de dois livros: Franchising: na alegria e na tristeza (2008) e Franchising na Real (2011). É Mediadora e Árbitra pela Caesp – Câmara Arbitral do Estado de São Paulo.