A história empreendedora da Patroni é uma história de sucessão empresarial inversa. A rede de pizzarias que hoje tem meus filhos como diretores foi pensada e criada para que meu pai, pudesse empreender. Ele tinha acabado de completar 50 anos quando perdeu seu emprego em uma fábrica de móveis e entrou em depressão, doença que acabou culminando com um infarto de miocárdio.
Com receio de que o estado do meu pai se tornasse ainda mais severo, pensei em uma forma de fazê-lo se sentir útil, produtivo e realizado novamente. Com o apoio, moral e financeiro, de familiares, fiz do hobbie de preparar pizzas uma fonte de renda e um oficio para meu pai. Abri uma pizzaria delivery – uma novidade naquela época - no bairro do Paraíso, a qual me dediquei até 17 horas diárias nos primeiros meses, embora já exercesse outra atividade remunerada em outra empresa. Meu pai não teve uma atitude diferente. Envolveu-se completamente no negócio e se tornou um exímio divulgador de nossa pizzaria. A gente se encarregava de fazer as entregas, não apenas dos folhetos, mas também das pizzas, pessoalmente.
Depois do lançamento da Patroni, meu pai viveu saudável por mais treze anos. Já eu renunciei à minha profissão paralela para me dedicar exclusivamente ao negócio que tínhamos construído juntos e que prosperou de forma surpreendente desde sua inauguração, em 1984.
Muitos episódios ocorridos ao longo desse período, desde à concepção da caixa de pizza de fibra à invenção da borda recheada, eu tive a oportunidade de compartilhar com os leitores de "Em Nome do Pai - A história da maior rede de pizzarias do Brasil, e os ensinamentos do seu criador, Rubens Augusto Júnior", lançado em 2013. É também na obra que tornei público o critério do processo de ascensão de Rafael e Patricia, dois dos meus filhos e herdeiros: o trabalho duro. Como filhos do dono, eles sempre souberam que deveriam dar o exemplo e trabalhar mais que os outros funcionários.
E foi por causa do cumprimento desse princípio que a Patroni chegou à sua terceira geração. Meus filhos ocupam a diretoria de marketing e o departamento jurídico da Patroni, mas começaram em posições de base e foram promovidos à medida que demonstravam bom desempenho e interesse pelo negócio. Antes de chegar ao topo, meu filho ajudou na cozinha, carregou lenha e chegou a ter salário equivalente à metade do piso de sua categoria profissional. Minha filha trilhou o mesmo caminho, limpou chão e lavou louça até ser promovida aos cargos administrativos.
Não nego que já pensei no meu futuro, mas ainda assim inevitável afastamento da Patroni, porém, prefiro, por ora concentrar minha concentração, energia e tempo, na expansão de nossa rede. Mesmo tendo estado há 33 anos à frente da Patroni e me aposentado junto aos órgãos oficiais brasileiros, continuo trabalhando mais de 12 horas por dia.
Lancei o negócio para fazer meu pai feliz, e tenho certeza de que meus filhos darão continuidade ao meu legado, deixando milhares de consumidores e funcionários felizes, mas ainda tenho o mesmo fôlego e o mesmo brilho nos olhos daquele rapaz que aos seus 25 anos se lançou na carreira empreendedora. Continuarei nessa empreitada ao lado deles, com os ouvidos atentos a cada uma das ideias que eles têm para propor e a cada uma das contribuições que só eles podem dar, como representantes de sua geração. Conciliar minha experiência na vida e nos negócios com as percepções e os conselhos do Rafael e da Patricia foi um dos grandes segredos do sucesso da Patroni nos últimos anos. Não se pode fechar os olhos ou as portas para isso.