O mundo está vindo ao Brasil. Até dez anos atrás, dizer que era brasileiro remetia imediatamente ao imaginário de qualquer estrangeiro o trinômio – mulheres, samba e futebol, seguido de um leve sorriso malicioso. Todo brasileiro que viajou para fora nos últimos anos notou uma mudança clara na visão e no interesse dos estrangeiros em relação ao Brasil, sendo que hoje já somos lembrados por referências mais maduras – carreira, crescimento e oportunidades. Recentemente, nos Estados Unidos fui abordado por três americanos querendo que eu encaminhasse os seus currículos para empresas brasileiras. Com muito brilho nos olhos, todos eles queriam passar a morar no Brasil, se estabelecer e aproveitar as diversas oportunidades que nosso país poderia proporcionar em suas carreiras.
Considerando que as perspectivas da economia mundial não são boas, apontando a continuidade de recessão na Europa e o baixo crescimento nos países ricos e em desenvolvimento, o Brasil, com seu amplo mercado consumidor, investimento grande nas agências de análises de riscos, com classe média crescente, estabilidade econômica, democracia madura, além da Copa do Mundo e Olimpíadas por virem, acaba tendo elementos fortes para as redes varejistas internacionais acreditarem no país. Até porque essas redes estão, na maioria dos casos, impossibilitadas de crescerem em seus países de origem.
Crescer no Brasil, portanto, é estratégico para muitas empresas de fora. Não existem dados disponíveis, mas estima-se que cerca de 40 redes internacionais desembarcarão por aqui nos próximos dois anos. Abrirão cerca de 400 lojas de todos os portes e formatos. Em alguns casos, para superarem o desconhecimento com a realidade brasileira, estão se unindo com sócios locais, máster franqueados ou mesmo vindo com operação própria.
Certamente enfrentarão dificuldades iniciais seja pelo “custo Brasil”, pelos nossos problemas crônicos de infraestrutura (logística, por exemplo), concorrência acirrada, os altos custos de ocupação dos imóveis, a escassez de mão de obra, entre outras. Mas não dá para subestimá-las. São redes com serviços e produtos inéditos e com grandes experiências internacionais.
Um fator que pode impulsionar ainda mais este movimento é o enorme número de shopping centers em construção no país. Serão cerca de 130 nos próximos três anos. A maior parte deles sofrendo com a falta de lojistas. Estima-se que serão necessárias mais de 16.000 lojas satélites para ocuparem estes estabelecimentos. As redes atualmente presentes no varejo brasileiro suprirão apenas parte destas lojas. Daí uma boa oportunidade para novos entrantes – nacionais e internacionais.
Importante ressaltar que se notam grandes projetos de varejistas nacionais sendo ativados. Cada vez mais profissionalizado, formalizado e antenado com o que acontece lá fora, esse empresário tem melhorado muito suas operações, numa clara evolução do que se via alguns anos atrás. Apostando no crescimento do mercado e no seu amadurecimento, eles estão investindo como nunca nas suas expansões e também em novos formatos, novas bandeiras e também em novos mercados – sim, o Brasil está também exportando suas redes varejistas, mas este é assunto para outro artigo.
De fato, estamos vivendo um momento de grandes transformações no varejo brasileiro, que afetarão profundamente o cenário nos próximos cinco anos.