*Por Décio Casarejos Pecin Jr.
Em novembro de 2001 o economista inglês Jim O’Neill, da Goldman Sachs, publicou o estudo “Building Better Global Economic BRICs”, tese que daria origem ao termo BRIC. O estudo propunha que devido ao potencial econômico, Brasil, Rússia, Índia e China poderiam se tornar nas próximas décadas as quatro principais nações do mundo sob o ponto de vista econômico. Passado pouco mais de uma década desde a criação do termo – inclusive hoje revisado para BRICS em alusão à África do Sul – percebe-se notável amadurecimento econômico das nações que compõem o grupo, feita a ressalva do caso russo que por motivos internos ainda enfrenta certa instabilidade econômica.
Apesar de o surgimento dos BRICS não ser o tema central da discussão aqui proposta, a análise econômica do grupo é importante para entender o atual cenário mundial e como o Brasil está nele inserido. A destacar, as cinco nações que hoje compõem o grupo apresentaram nos últimos anos acelerado ritmo de crescimento, disponibilidade de mão de obra e um mercado interno emergente e com consumo em alta.
Cabe ressaltar também que, ainda que não estejam incólumes, todos os países citados têm enfrentado a crise nos mercados europeus e norte-americano sem maiores sobressaltos. No Brasil, em especial, a crise não somente está sendo contornada como também tem beneficiado segmentos específicos da economia interna, como os setores de varejo e
franquias.
Entre 2008 e 2009, período que marca a eclosão da crise em seu caráter global, o franchising brasileiro cresceu 19,5% em faturamento, ritmo que se manteve estável nos anos subsequentes, chegando a 16,9% em 2011. No varejo, ainda que em ritmo menor, o crescimento registrado em 2008 foi de 13,6%. Ou seja, enquanto grandes empresas e grupos estrangeiros decretavam concordata ou simplesmente encerravam suas operações, redes brasileiras de franquia e varejo registravam acelerado ritmo de crescimento.
Com o desempenho acima da média, os setores passaram a atrair não somente novos empreendedores, mas também investidores com atuação global que enxergavam nos segmentos algum dos poucos que ainda mantinham a sua vitalidade. Foi neste contexto que os fundos de investimento desembarcaram no País prontos a fazer aportes significativos em grandes grupos. No caso do franchising especificamente, cabe destacar que houve enorme mudança de paradigma, visto que há menos de dez anos o setor não era bem visto pelos fundos de private equaty pela dificuldade que seria lidar com pessoas de diferentes perfis.
Aos poucos gestoras globais ingressaram nos segmentos de franquias varejo e em diversas áreas de atuação. Em 2009, o fundo Axxon adquiriu parte da operação do Mundo Verde, franquia que trabalha com produtos naturais. No ano seguinte, foi a vez da CVC Turismo, que recebeu o aporte do Carlyle Group. Em setembro, o mesmo Carlyle Group adquiriu parte majoritária da operação da varejista Tok Stok.
No setor de ensino de idiomas, a primeira empresa a receber aportes de fundos de investimento foi a Multi Holding, que em 2010 anunciou o ingresso do fundo Kinea em sua operação. Mais recentemente foi a vez do próprio CNA anunciar a entrada do fundo de investimento britânico Actis em sua operação, com o aporte de R$ 135 milhões. Via de regra, as gestoras internacionais que investem em grupos brasileiros têm a missão de auxiliar no processo de expansão das redes societárias e, em longo prazo, dar início ao seu processo de abertura de capital.
A análise do atual momento com o ingresso de gestoras internacionais no mercado brasileiro evidencia o papel do Brasil na economia mundial. Se no contexto global os BRICS despontam como nações com acelerado ritmo de crescimento interno, no Brasil os segmentos de varejo e franchising se destacam como setores capazes de atrair investimentos vultosos. Essa realidade implica necessariamente na abertura de novos negócios e criação de novos postos de trabalho, fatores essenciais para o crescimento de qualquer nação emergente.