Nos últimos meses, observou-se um movimento de retrocesso nas políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) em grandes corporações americanas. Empresas como Walmart e Meta têm reduzido ou eliminado programas focados em grupos minoritários, muitas vezes em resposta a pressões políticas e sociais. Esse fenômeno, conhecido como "backlash" contra a diversidade, levanta preocupações sobre o futuro dessas iniciativas e seus impactos no ambiente corporativo global.
Alimentando para corrente ‘Anti-Woke, contrária a pautas levantadas pelas minorias, em relação, principalmente, a gênero, raça e direitos da comunidade LGBTQIAP+, o cenário político americano apontou, pelo menos, dois pontos relevantes a serem considerados: empresas que só seguiam a pauta DE&I por se sentirem forçadas perante o cenário político e empresas que temem perder espaço no mercado por defender tais assuntos e preferiram recuar para se manter no jogo dos negócios.
Sendo estes ou outros os motivos, é evidente que o retrocesso tem impactos locais e globais, fazendo com que discuta-se a importância desses assuntos e a forma como eles são trabalhados pelas organizações.
O cenário atual nos Estados Unidos
A reeleição do presidente Donald Trump marcou o início de uma era em que a diversidade nas empresas está retrocedendo. A administração Trump propôs deixar de lado políticas de inclusão, focando na meritocracia e reduzindo programas de igualdade em grandes empresas, muitas vezes por motivos econômicos. Estudos, como o relatório da McKinsey & Company, indicam que empresas mais diversas são 9% mais rentáveis. No entanto, companhias como Meta, McDonald's e Harley-Davidson encerraram suas iniciativas de diversidade recentemente.
Apesar desse retrocesso em algumas organizações, a promoção da diversidade, equidade e inclusão permanece essencial para o sucesso empresarial. Pesquisas demonstram que equipes diversas estimulam a inovação e melhoram o desempenho financeiro. De acordo com a McKinsey & Company, empresas no quartil superior em diversidade de gênero têm 27% mais chances de superar financeiramente suas concorrentes.
O contexto brasileiro
No Brasil, embora influências externas possam impactar as políticas corporativas, o cenário apresenta particularidades. Após eventos marcantes, diversas empresas brasileiras reforçaram seu compromisso com a diversidade e inclusão. Especialistas apontam que, embora haja desafios, o desmonte de políticas de diversidade nos EUA pode chegar ao Brasil de forma menos intensa, devido a diferenças culturais e sociais.
É necessário entender a realidade brasileira como é, um País que carrega desigualdades estruturais e que foi forjado de maneira que hoje, sabe-se ser, moldada para a manutenção do status quo. Por isso, a pauta dos direitos humanos dentro das organizações, assim como a diversidade, equidade e inclusão não são e nem devem ser encaradas como política ideológica e, sim, como reestruturação de um modelo estrutural visando a igualdade concreta e material, o que, ao fim, será frutífero para a sociedade como um todo.
A melhora na qualidade de vida, no IDH, na economia e na própria política, depende de forma direta de uma sociedade que tenha acesso à educação, formação de qualidade e oportunidades para colocar em prática todo o seu potencial produtivo e intelectual.
Por que manter as iniciativas de DEI?
Para os empresários, é crucial entender que retroceder em políticas de DE&I pode resultar em perda de talentos, redução da inovação e impacto negativo na reputação da empresa. Além disso, consumidores e investidores estão cada vez mais atentos às práticas inclusivas das organizações, influenciando decisões de compra e investimento.
O Brasil, não só pelo contexto político, mas, muito especialmente pelo contexto social após a pandemia, tem considerado muito mais as organizações por seus propósitos e modo de agir; e isso não será influenciado por um pensamento estadunidense.
Aliás, é o momento de nos desvincularmos um pouco de seguir a linha do que está em alta “lá fora” e começarmos a pensar o País como a potência que é - ou poderia ser - em ser referência de boas práticas, desenvolvimento e reestruturação da cultura corporativa, levando em consideração não apenas o lucro, mas o caminho para chegar nesse resultado positivo.
Embora algumas grandes corporações estejam recuando em suas políticas de diversidade, equidade e inclusão, é fundamental que os empresários reconheçam o valor contínuo dessas iniciativas. Manter e fortalecer programas de DE&I não apenas promove justiça social, mas também impulsiona o desempenho e a competitividade no mercado.
*Por Amanda Ramalho, advogada especialista em Direito Empresarial e Compliance e colunista da Plataforma Sua Franquia.